Gravidez na adolescência

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Gravidez na adolescência

Atribuir um significado à gravidez na adolescência é o que pretendo com este texto.

Não se pode perder de vista que o desenvolvimento da sexualidade é um evento de extrema importância em direção à idade adulta. Muitas vezes, em busca de uma maturidade precoce, jovens vêm lançando-se a esta aventura cada vez mais cedo, sem terem a compreensão de todas as consequências que isto envolve.

Há inicialmente um deslumbramento por terem dado início à vida sexual, um marco importante para todos. Depois, como é de se esperar, vem a obrigatoriedade do enfrentamento dos efeitos físicos e psicológicos que esta escolha acarreta.

O sexo queira ou não, não é destituído, para a maioria das pessoas de envolvimento emocional. Outras consequências não de menor importância, seguem a esta escolha: dúvidas se a conduta adotada está adequada, medos, promiscuidade, exposição emocional, possibilidade de adquirir doenças sexualmente transmissíveis e a mais evidente, a gravidez na adolescência ou mesmo, a gravidez não planejada.

Sempre que este evento ocorre, há o choque pela notícia, a frustração de enfrentar que tudo o que se preconizou acerca de prevenção da gravidez tenha falhado e ela venha aparecer como um problema a ser enfrentado que depende de um suporte familiar.

É verdade que, na maioria das vezes, passado o choque, vem o conformismo, alegria e melhora no relacionamento pela chegada do bebê. Entretanto, permanece a frustração pela interrupção de projetos de vida familiar, estudos e progresso profissional desta adolescente geralmente em conflito, pois raramente tem maturidade para lidar com esta maternidade precoce e suas responsabilidades, além de muito provavelmente não estar em um relacionamento estável com o pai da criança.

A falta de estímulo e condições para dar continuidade aos estudos resultará em jovens com pouca instrução que tenderão a ter dificuldade de inserção no mercado de trabalho de forma satisfatória para poderem ter uma vida mais digna. Além disso, já carregam consigo a responsabilidade de criarem e educarem uma criança. Há dados de trabalhos que indicam uma diferença de 53% para 95% entre jovens que engravidam e que não engravidam que terminam o segundo grau.

Existem evidências do abandono escolar, por pressão da família, pelo fato da adolescente sentir vergonha devido à gravidez, e ainda, por achar que “agora não é necessário estudar”. Pode haver também rejeição da própria escola, por pressão dos colegas ou seus familiares e até de alguns professores.

Outra perspectiva que temos sobre o tema é que a despeito de tudo o que se ouve, do que se fala, do que se veicula nos meios de comunicação, a gravidez precoce continua a crescer na nossa sociedade. Neste grupo populacional vem sendo considerada, em alguns países, problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar complicações obstétricas, com repercussões para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e econômicos.

Ao enfrentarmos a questão como um problema de saúde pública, nas políticas de prevenção deve-se levar em consideração o conhecimento dos chamados fatores predisponentes ou situações precursoras da gravidez na adolescência, tais como: baixa auto-estima, dificuldade escolar, abuso de álcool e drogas, comunicação familiar escassa, conflitos familiares, pai ausente e ou rejeitador, violência física, psicológica e sexual, rejeição familiar pela atividade sexual e gravidez fora do casamento.

Têm sido ainda referidos como fatores predisponentes: separação dos pais, amigas grávidas na adolescência, problemas de saúde e mães que engravidaram na adolescência.

Por outro lado, alguns estudos sugerem que, entre as adolescentes que não engravidam, os pais têm melhor nível de educação, maior religiosidade e ambos trabalham fora de casa.

É importante lembrar também, que deve ser incluída nas estratégias de prevenção, a averiguação de atitudes frente a adolescente que engravidou, pois como vimos, depois disto, um longo e árduo caminho se desenha no horizonte desta menina.

Referência: Marta Edna Holanda Diógenes Yazlle

Professora Doutora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP e responsável pelo Setor de Anticoncepção do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Leia mais em:

http://www.scielo.br/scielo.phppid=S010072032006000800001&script=sci_arttext&tlng=es

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a08Preto–USP

Álcool e drogas na adolescência

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Álcool e drogas na adolescência

Por que os adolescentes experimentam substâncias?

Os adolescentes que experimentam drogas dão razões similares às descritas para o fumo e para o álcool: pressão dos companheiros, uso por parte dos familiares (habitualmente irmãos mais velhos), estresse, aborrecimento, rebelião, ansiedade, depressão e redução da autoestima. O uso do fumo e do álcool em geral precede à experimentação com drogas.

Apesar do bombardeio de informações a respeito do perigo do fumo, do álcool e das drogas, nenhum adolescente fica imune à influência social e ao fácil acesso. Isto é especialmente efetivo no caso de os pais fumarem ou beberem em excesso ou usarem drogas.

Quem se encontra em situação de risco?

– “Todos os adolescentes”. O fumo, o álcool e as drogas estão disponíveis, e a maioria dos jovens são objeto de pressão para o início de seu uso. Sem dúvida, alguns adolescentes estão em maior risco do que outros. Os três fatores mais importantes são a história familiar, o uso por parte dos pais e certas características individuais.

A história familiar de alcoolismo indicaria uma predisposição genética, teoria sustentada em estudos de filhos adotivos. Não só é fator de risco o uso por parte dos pais, mas a atitude, a educação e as medidas disciplinares inconsistentes com relação ao uso de substâncias aos seus filhos.

Quando uma família está socialmente isolada é maior o perigo de uso de substâncias e aumenta o índice de abuso físico e sexual ou de fuga do lar. Outros fatores familiares predisponentes são o estresse causado por uma separação, divórcio, novas uniões conjugais, desemprego e doença ou morte de um dos pais.

Prevenção

O Dr. Robert Du Pont, ex-diretor do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, recomenda 10 Regras para os pais:

1. Estabelecer um consenso familiar sobre o uso de substâncias: as regras devem ser comunicadas antes da puberdade. As crianças devem saber que seus pais esperam que na adolescência não fumem, não bebam, não usem maconha e outras drogas. Cada família deve estabelecer suas próprias regras, que devem ser repetidas com frequência.

2. Estabelecer penalidades pelo não-cumprimento das regras: as punições não precisam ser nem repressivas, nem excessivas e devem ser anunciadas previamente e mantidas de forma consistente. Pode ser útil estabelecê-las com a participação dos filhos, no começo de sua adolescência. Exemplos: perda de privilégios, restrição ao uso do telefone, “proibição de sair de casa”, etc.

3. Dedicar algum tempo diário para conversar com os filhos a respeito do que está se passando em suas vidas, como se sentem e o que pensam. Deve-se deixá-los falar livremente, não é necessário ter respostas, mas escutá-los atentamente, respeitando suas experiências e sentimentos.

4. Ajudar os filhos a definirem objetivos pessoais: essas metas podem ser acadêmicas, esportivas e sociais. É importante ensinar os filhos a tolerar seus inevitáveis fracassos, que são oportunidades para crescer e não para desanimar.

5. Conhecer os amigos dos filhos: conhecer também os pais, encontrar-se com eles e compartilhar conhecimentos.

6. Ajudar os filhos a sentirem-se bem com suas próprias qualidades e com seus pequenos ou grandes êxitos: isto significa entusiasmar-se pelo que gostam.

7. Deve haver um sistema estabelecido para a resolução de conflitos: nem sempre os filhos estão de acordo com todos os regulamentos da casa. A melhor maneira de manter a autoridade é estar aberto aos questionamentos dos filhos. Um recurso útil é incluir a consultoria com uma pessoa respeitada por todos (outro membro da família, um médico, um vizinho, etc.).

8. Falar frequentemente e muito cedo com os filhos a respeito de seu futuro: os filhos devem saber que o tempo que viverão com seus pais é limitado, pois se tornarão adultos, sairão de casa e, neste momento, deverão pagar suas contas e estabelecer suas regras. Enquanto estiverem na casa dos pais precisarão aceitar sua autoridade.

9. Deve-se desfrutar dos filhos: uma das maiores felicidades da vida é ter os filhos em casa. Tanto os pais quanto os filhos devem trabalhar para que o lar seja um ambiente positivo para todos. Isso significa trabalho de equipe e respeito mútuo.

10. Ser um pai/mãe “intrometido/a”: é importante fazer perguntas aos filhos, onde e com quem estão. Esta informação é necessária para que sejam pais efetivos.

Para concluir

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009 mostram a gravidade do problema do álcool e drogas entre os adolescentes escolares, evidenciando a precocidade da exposição, a magnitude do problema (mais de 70% já foram expostos ao álcool e cerca de 8% às drogas) e, com isto, a crescente exposição a riscos. Ainda, revela-se que os jovens têm acesso ao álcool em festas, bares, lojas ou até na própria casa. A propaganda do álcool e das drogas entre crianças e jovens ocasiona, dentre outros malefícios, a formação de hábitos e do estímulo ao consumo. Para que tenha-se êxito na redução da acima exposta, grande experimentação e do uso regular do álcool em populações jovens e vulneráveis, o posicionamento da sociedade frente ao álcool deverá evoluir de uma posição passiva e de estímulo, reconhecendo os riscos da exposição precoce e propondo medidas de controle, como, por exemplo, a proibição da propaganda do álcool, em especial da cerveja, tal qual foi obtido na proibição da propaganda do tabaco, o principal instrumento utilizado para o declínio do uso desta droga. Considerando ainda que o uso do álcool e das drogas está associado a diversos outros fatores de risco, acarretando prejuízos à saúde e à vida dos adolescentes, torna-se urgente a ação das famílias, escolas e sociedade para traçar medidas de promoção à saúde e prevenção do uso destas substâncias.

http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v14s1/a14v14s1.pdf

http://ral-adolec.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-71301998000300004&lng=es

Retirado de:

Prevalência do consumo de álcool e drogas entre adolescentes: análise dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar

Deborah Carvalho Malta I

Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas II

Denise Lopes Porto III

Eliane Aparecida Duarte IV

Luciana Monteiro Sardinha V

Sandhi Maria Barreto VI

Otaliba Libânio de Morais Neto VII

I Coordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não-transmissíveis (CGDANT) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS), Brasília (DF); Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil

II CGDANT da SVS do MS, Brasília (DF); Universidade Federal do Piauí (UFPI) – Teresina (PI), Brasil

III Departamento de Análise de Situação de Saúde (DASIS) da SVS do MS – Brasília (DF), Brasil

IV CGDANT da SVS do MS, Brasília (DF), Brasil

V CGDANT da SVS do MS, Brasília (DF), Brasil

VI Faculdade de Medicina da UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil

VII DASIS da SVS do MS – Brasília (DF), Brasil

E de:

Uso e abuso de drogas na adolescência: o que se deve saber e o que se pode fazer

Tomás José Silber,*

Ronald Pagnoncelli de Souza**

* Professor de Pediatria, The George Washington University School of Medicine and Health Sciences.
Diretor de Educação e Treinamento Médico do Departamento de Medicina da Adolescência e do Adulto Jovem – Children’s National Medical Center – Washington DC.

** Professor Adjunto IV do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Presidente do CENESPA – Centro de Estudos e Pesquisa em Adolescência.